A Sacerdotisa – a Guardiã do inconsciente
O Louco, em sua Jornada, já passou pelo Mago, onde aprendeu que tem escolhas e competências e que pode seguir seu destino.
A carta seguinte, representa A Sacerdotisa, ou A Papisa. Ela é uma entidade arquetípica com uma gama enorme de significados. Em primeiro lugar é uma carta de natureza fortemente feminina e está ligada ao espiritual. Esta carta é uma das que faz suspeitar que o Tarot é muito antigo, já que na Idade Média a mulher não tinha este destaque e a religião era governada pelos homens.
Entre as origens do Tarot, alguns estudiosos do Tarot consideram como uma possibilidade ele ter vindo do Egito, já que a mulher tinha um papel importante na sociedade, normalmente exercendo o papel de chefe da religião. Entretanto, provas históricas afastam esta possibilidade.
Outra possível origem são os Cátaros, que divinizavam a mulher, ou melhor, o arquétipo feminino ou Ânima. Eles foram massacrados pela Igreja Católica e indiretamente são os responsáveis pelo crescimento do culto a Maria. Segundo algumas lendas, eles recriaram o Tarot para manter o seu conhecimento disfarçado como um jogo de cartas. A intenção dos cátaros era que o baralho sobrevivesse e a maneira dele se perpetuar era através do vício. O vício do jogo manteria vivo o baralho até que alguém o decifrasse, trazendo a luz sua sabedoria. Convém, contudo informa que a parte relacionada ao jogo e ao vício provavelmente é lendária.
Verdadeira ou não esta história, ela tem em seu cerne um conceito importante: às vezes do lugar mais escuro vem a luz e no lugar onde há muita luz ela cega impedindo a verdade de ser vista. Os padres da Igreja católica se julgavam portadores da luz e ficaram cegos às verdades cátaras.
Todo este contexto leva ao significado maior da Sacerdotisa. Ela é portadora da sabedoria oculta.
A nossa fonte maior de sabedoria oculta é o nosso próprio inconsciente. Assim sendo ela é sua guardiã.
Mas por que manter um conhecimento oculto, a nível pessoal? Pelo mesmo motivo que os cátaros foram perseguidos: a humanidade não estava preparada para entender o conhecimento. Muitas coisas nós inconscientemente sabemos mas seu teor permanece oculto porque nós não conseguimos lidar. Por exemplo, um trauma de infância ou lembranças de vidas passadas, que vão mais atrapalhar que ajudar. Então eles ficam trancados lá.
A Sacerdotisa quando aparece numa leitura está ali para revelar algo oculto, mas nunca mostra completamente, pois às vezes o segredo é inefável e só pode ser sentido e não verbalizado. Normalmente é representada com pelo menos uma das mãos oculta e está diante de um portal, que é a entrada do inconsciente.
O Louco em sua viagem estaria pronto para as revelações da Sacerdotisa? No estágio em que ele está, ainda não. Mas já percebe que há algo oculto que precisa ser revelado. Neste instante ele tem uma motivação para continuar a Jornada. Ele agora tem uma Demanda, tal qual Percival, algo que vale a pena lutar.
Na mitologia e nas obras de ficção este momento é quando o herói recebe sua missão, a maioria das vezes de maneira indireta. É Luke encontrando R2D2, Gandalf mostrando o real significado do anel para Frodo, M convocando James Bond, Arthur confrontado com a espada na pedra e o primeiro encontro de Percival com o Graal. Neste momento sabem que algo precisa ser feito mas não sabem o tamanho da encrenca. Mesmo não estando explicitamente presente, quem rege este momento é A Sacerdotisa.
A Imperatriz – As forças da Natureza
O segundo arquétipo feminino é a Imperatriz. Representa a mãe e a natureza. A mulher enquanto mãe tem o mesmo atributo da natureza no sentido de reprodução.
Na maioria dos Tarots ela é representada por uma mulher altiva, sentada num trono tendo um cetro encimado por um globo (representado a totalidade) e um escudo.
Por que uma Imperatriz? A Natureza nos governa através de suas leis e, embora nos dê tudo, ela é inflexível e deve ser respeitada. Não que ela se vingue, mas reage para tomar o equilíbrio de volta.
A mãe nos gera e nos dá a vida, mas somos dependentes dela até podermos andar com as próprias pernas. Ela nos dá sustento, educação e disciplina, tal qual a natureza.
Nos anos que se seguiram a revolução Francesa, o Tarot de Marselha sofreu modificações no sentido de transformar as figuras da realeza e eclesiásticas em figuras despojadas deste conteúdo, assim garantindo a sobrevivência do baralho. Assim, a Imperatriz foi chamada de Grand Mère, que pode significar tando a Grande Mãe, como simplesmente avó. A Grande Mãe pode significar tanto a natureza como a nação.
Por todos estes motivos, A Imperatriz é muito apropriadamente representada por Deméter grávida no Tarot Mitológico. Deméter é a deusa da natureza na mitologia grega e está grávida de Perséfone, que será raptada por Hades e descerá ao submundo. Então Deméter enquanto grávida contém os dois atributos arquetípicos femininos: a capacidade de gerar e a capacidade de descer ao inconsciente.
Representa também o corpo físico e o mundo material, onde realizamos nossa vida. O Louco agora está diante do meio ambiente e toma consciência de seu corpo. Também encontra a sua capacidade criativa. Ele pode não gerar, por ser homem, mas pode criar através da arte e da ciência. Pode também plantar, fecundando a Terra, como faria com uma mulher.
Pode-se argumentar que o Louco também poderia ser uma mulher, trilhando esta jornada, como já vimos. Doroty e Alice fizeram esta viagem. De qualquer forma esta é a lição a ser aprendida: de que podemos gerar, com o corpo, a Terra ou a mente.
Ainda temos um aspecto que não podemos desdenhar: A Mãe Terrivel, que é o lado sombrio da Imperatriz. Todas as madrastas dos contos de fadas e a Esfinge, que ameaça Tebas. Podemos ver esse lado quando a natureza está “enfurecida”: vulções, tempestades, terremotos, tsunamis e, poderíamos acrescentar, pandemias. Como dissemos mais acima, não se trata de uma vingança, mas de uma reação ou um ciclo necessário
Assim o Louco, depois de escolher seu caminho encontra a Imperatriz que pode lhe dar tudo o que deseja, desde que ele a respeite.