No artigo anterior vimos que O Carro é por muitos considerado o sujeito do Tarot e está associado à Jornada do Herói, como descreveu Joseph Campbell.
Entretanto, embora o arquétipo do herói seja fortemente masculino, nada impede de uma mulher percorrer a jornada do herói, E há versões femininas deste arquétipo.
Na Tarot Encantado, que tem características fortemente femininas, temos a escolha de Brunilde, a Valquíria, como representante de O Carro.
As valquírias eram entidades nórdicas com a função de levar os guerreiros valorosos, mortos em batalha, para Valhala. E Brunilde teria sido a principal das Valquírias, mas por ter desobedecido Odin, poupando um guerreiro por achar a determinação do deus injusta, é condenada a ficar dormindo em uma montanha e só ser libertada por um homem que a derrotasse. Ele ficaria presa em uma montanha, guardada por um dragão. Quem consegue a façanha é Sigfried, filho do herói que ela salvara.
Esta lenda dá origem à história da Bela Adormecida, que foi sendo bastante atenuada ao longo dos séculos. Numa das versões mais antigas, Brunilde é estrupada pelo seu pretenso salvador.
No Tarot Encantado, a cena evocada é a da Cavalgada das Valquírias, da ópera A Valquíria de Richard Wagner. Na carta, O Carro é mero coadjuvante, já que Brunilde está montada num cervo (na lenda é um cavalo) e, ao contrário do herói do Tarot de Marselha, mantém as rédeas seguras com a determinação de conduzir o animal (ainda que seja na direção oposta a que seu dever lhe manda). O herói masculino que está no carro consegue seus feitos pela inspiração da divindade. Aqui não há nenhuma ambiguidade. As rédeas tem que ser seguras em direção ao que manda a consciência da heroína.
A Heroína fará o que for preciso ainda que sofra as penas que lhe são impostas. É um outro tipo de herói, que parte da determinação e da coragem em contradizer a ordem vigente e paga o preço, às vezes com a própria vida. Ela não escolhe o sacrifício, como, por exemplo Jesus, mas está disposta tudo para defender aquilo que acredita.
A Cavalgada das Valquírias
De certa forma, esta postura tem muito a ver com as lutas feministas que vem ocorrendo no mundo em busca de maior autonomia, quebrando justamente o paradigma da supremacia masculina.
Um bom exemplo de heroína que percorre a Jornada do Herói, é Doroty, do Mágico de Oz. Sua motivação é bastante simples, só quer voltar para casa e o fará ainda que tenha que derrotar a Malvado Bruxa do Oeste. E o poder masculino, que seria sua salvação, é na realidade uma farsa.