Magia, Bruxaria e Feitiçaria
Os termos Magia, Bruxaria e Feitiçaria são usados ora como sinônimos ora como coisas distintas. Um ou outro em tempos diferentes e para pessoas diferentes são fontes de admiração, recusa e até medo.
O medo normalmente é fruto da ignorância. E para afastar a ignorância nada mais eficaz do que o conhecimento.
Magia
Uma boa fonte de consulta será um dicionário. Escolhemos o Houssais, e, para magia obtivemos:
Magia: arte, ciência ou prática baseada na crença de ser possível influenciar o curso dos acontecimentos e produzir efeitos não naturais, irregulares e que não parecem racionais, valendo-se da intervenção de seres fantásticos e da manipulação de algum princípio controlador oculto supostamente presente na natureza, seja por meio de fórmulas rituais ou de ações simbólicas metodicamente efetuadas; mágica.
Para entender este conceito, vamos pedir ajuda ao Mago do Tarot. No Tarot de Marselha ele é representado por um mágico de rua, onde ele manipula objetos de forma habilidosa. Os eventos parecem extraordinários aos olhos do espectador, mas não aos olhos do Mago, que conhece os truques. Aproxima-se da última definição dada pelo verbete do Houssais: mágica.
O Mago seria então um enganador? Sim e não. No Tarot ele simboliza aquele que abre o caminho para o conhecimento e ele precisa que o discípulo se maravilhe para que ele possa ensiná-lo.
Vamos pegar outro trecho da definição de Magia: arte, ciência ou prática baseada na crença de ser possível influenciar o curso dos acontecimentos e produzir efeitos não naturais, irregulares e que não parecem racionais.
Observe que o dicionarista tenta ser isento, colocando o termo magia como sento arte, ciência ou prática. Ao admitir que ela pode ser uma ciência ele dá a ela um status “mais nobre” ao termo.
A seguir ele coloca o objetivo da Magia: influenciar o curso dos acontecimentos e produzir efeitos não naturais, irregulares e que não parecem racionais.
Se colocarmos do ponto de vista do senso comum, esta seria uma definição adequada. Numa visão mais moderna, o Mago procura influenciar os acontecimentos, mas os efeitos que produz são apenas aparentemente não naturais. Tem uma frase dita por Arthur Clarke que é
“Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinta da magia.”
Por exemplo, até o século XIX as ondas eletromagnéticas eram desconhecidas. Para qualquer pessoa de uma época anterior, um celular seria um objeto mágico.
Saindo das ciências físicas indo para a psicologia, a hipnose, apesar de ter sido desenvolvida como uma técnica auxiliar de uma terapia (o mesmerismo, desenvolvido pelo abade Mesmer), foi considerada “magia” e banida pela Igreja, juntamente com a glass harmônica, um instrumento musical usado nas sessões.
Uma das formas de explicar os fenômenos atribuídos à magia é usar o modelo da Física Quântica, já que investigar fenômenos quânticos deixa até um cientista clássico intrigado, por parecer que não se adéqua ao modelo da física Newtoniana ou mesmo relativística. O mesmo pode se pensar do resultado da Magia: apesar de parecer não natural ou sobrenatural, é algo perfeitamente possível dentro da natureza, ainda que improvável.
Bruxaria e Feitiçaria
A bruxaria tem toda uma conceituação negativa, devido à perseguição sistemática feita pela Igreja Católica e posteriormente pela Protestante de mulheres que detinham algum conhecimento vindo das religiões pré-cristãs.
O termo é usado nos idiomas de origem Ibérica e seu significado original perdeu-se. No francês, as bruxas são chamadas de sorcière, que pode ser traduzido como feiticeira e no italiano strega, que significa ave noturna.
As bruxas seriam sacerdotisas de antigas religiões centradas no feminino. Quando estas religiões foram destruídas, a perseguição atingiu qualquer mulher que detivesse algum conhecimento não oficial, fosse de produzir os encantamentos (as bruxarias) ou simplesmente o uso de ervas medicinais.
A palavra feitiço pode ser associada com o verbo fazer, como no linguajar popular, onde o sinônimo é coisa feita. O feitiço seria uma ação executada provavelmente através de um ritual com uma intenção mágica. Novamente o preconceito coloca isso como uma ação sempre maléfica.
As Leis
Convém ressaltar que nas religiões antigas, a separação maniqueísta do Bem e do Mal não existia. O que existia era o respeito pelas leis da natureza, que o mago, a bruxa ou feiticeiro invocaria pra fazer o que ele desejava e para toda ação eles sabiam que havia uma reação em contrário, o que pode ser entendido, com certos limites, como a Lei do Karma ou do Retorno. Na maioria das religiões a Lei do Retorno seria executada nesta vida mesmo.
Observando a Lei, o mago faria o possível pra que seus encantamentos seguissem a lei natural. O que ele na realidade fazia era dar “um empurrãozinho” em alguma das forças atuantes de forma que o beneficiassem ou a seu “cliente”.
Isso está na última parte da definição do Houssais: “valendo-se da intervenção de seres fantásticos e da manipulação de algum princípio controlador oculto supostamente presente na natureza, seja por meio de fórmulas rituais ou de ações simbólicas metodicamente efetuadas”.
Na definição aparece o termo “seres fantásticos”. Estes seres variam de religião para religião, mas em geral, podemos incluir os elementais (gnomos, ondinas, sílfides e salamandras), espíritos de mortos, anjos, deuses de mitologias politeístas e até, para horror de alguns fundamentalistas, Deus.
Dentro de um ponto de vista abrangente, a oração seria uma forma de magia: eu tento mudar a realidade, esperando uma ação sobrenatural, apelando para uma entidade espiritual em nome de uma Lei (por exemplo, a lei mosaica ou a lei do Amor).
Encarando a Magia
Há duas formas de encarar a Magia, que eu chamarei aqui, por razões didáticas, de cristã e pagã.
O jeito cristão de encarar a magia é confiar num poder sobrenatural externo a si mesmo, vindo por exemplo, de Deus, dos Anjos ou dos Santos, a quem apela. Para isso está disposto a sacrifícios, orar, fazer novena, praticar a caridade, etc.. Note que isso pode estar presente em religiões não cristãs, sempre que apelamos para uma entidade transcendente, seja Deus, Alá, Buda, Thor ou um Orixá. No caso é a vontade de Deus (ou da entidade que acredito) que está atuando predominantemente.
O jeito pagão de encarar a magia é ver a si mesmo como parte co-responsável pelo processo. Quando estou fazendo ou recebendo a magia, é a minha vontade que atua. Eu contribuo de alguma forma com a minha energia no processo. Note que coloquei também “recebendo” a magia. Isso pode ser entendida de duas formas. A primeira é eu contratei um mago para fazer o serviço para mim, então isso não me isenta do processo de dos resultados. A outra é: eu fui atingido por uma magia, boa ou má, porque eu permiti que isso acontecesse.
Para quem tem a visão pagã, o que acontece de errado na minha vida, mesmo vindo através de uma magia negra contra mim é de minha responsabilidade, pois fui eu quem vibrou negativamente criando condições para que o feitiço “pegasse”. E também das coisas boas. Uma pessoa com a visão pagã do mundo jamais dirá: Deus não me ajudou. Por outro lado, se ocorreu uma coisa boa, ele vai agradecer com a expressão “Sou grato”, pois a gratidão estabelece uma retribuição e não uma obrigação.
Note que a visão pagã pode ser encontrada em um cristão e viceversa. E nós, na nossa vida cotidiana, independente de nossas crenças (ou não crenças, colocando aqui os ateus e agnósticos) temos ora uma atitude cristã (aceitar o mundo) ora uma pagã (agir no mundo).
Para que então ter medo da magia?