A Lua, o Arcano XVIII do tarot está associada à instabilidade. A origem desta visão está no fato dela ser um astro noturno e o único visível a olho nu que apresenta fases. Devemos sempre lembrar que a origem do Tarot como o conhecemos é medieval, onde a escuridão noturna era sinônimo de perigo e a Lua, mesmo na fase cheia traz uma iluminação muito menor que o sol e que muitas vezes revela aquilo do qual temos medo, por exemplo os animais noturnos, como aranhas, corujas e lobos.
Aliás isso é algo que já vemos na representação da Lua no Tarot de Marselha e o Waite. Há um cão e um lobo uivando para a Lua. O uivar do lobo traz para a maioria das pessoas uma sensação de solidão e, se estivermos perdidos numa floresta, medo.
Observe melhor esta carta. Ela é a única nos baralhos Waite e Marselha (e em outros que os tomam como modelos) que não tem uma figura humana. A única representação antropomórfica é o rosto da Lua.
Há uma lagosta num pequeno tanque no que seria a entrada do submundo, guardada pelo lobo e pelo cão, remetendo ao mito de Cérbero, o Guardador do Inferno na mitologia Grega.
Estes três animais representam a parte mais profunda de nosso inconsciente. O cão e o lobo representam nossos instintos, nas suas duas formas, a domesticada e a selvagem. Na visão freudiana, o Id.
A lagosta é um dos animais listados como “abomináveis” na cultura judaica, por parecer um inseto e viver no mar, que seria o local dos peixes. No simbolismo do tarot, a água representa as emoções e também o inconsciente, sendo o mar nosso Inconsciente Coletivo. A lagosta vai se agarrar à pessoa que tenta transpor o limiar e puxar para baixo. Por este motivo esta carta esta associada à tristeza profunda e à depressão.
No título deste artigo aparece o epíteto: O segundo encontro com A Sombra. Aqui nos referimos à Sombra junguiana, a parte do nosso self que renegamos. O primeiro encontro foi com o Diabo, onde nos deparamos com aquele que viola nossos princípios. A segunda faceta do Sombra é perda da Esperança, representada pela Lua, por isso a associação com a depressão.
A pessoa que está vivenciando este arcano pode estar vivendo um luto, ter perdido algo importante ou tido uma desilusão amorosa forte, o que a levou a uma tristeza profunda.
A tendência é tentar negar isso. Costumamos aconselhar pessoas neste estado a tentar esquecer a causa e, quando estamos nele, sabemos quanto isso é impossível. É necessário vivenciar isso. Passar pela noite escura da alma.
A Noite Escura da Alma é um poema de São João da Cruz, poeta místico cristão do século XVI, que trata de uma crise similar as descritas pela carta da Lua e a maneira de lidar com ela é aceitá-la e transcendê-la. Seria o mesmo que estar numa floresta escura e ao invés de voltar pelo caminho de onde viemos, seguimos em frente para sair pelo outro lado da floresta. Ou como Dante, que só pôde sair do inferno após ter ido ao mais profundo dos círculos.
Um livro interessante, baseado neste poema, que pode ajudar a entender a crise retratada pela carta A Lua é Noites Escuras da Alma de Thomas Moore onde ele tenta trazer a questão levantada por São João da Cruz num contexto mais amplo e contemporâneo, não ligado apenas ao cristianismo.
Outra fonte de informação e de inspiração é The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd, onde o estado de profunda depressão é descrito com maestria.
O lado luminoso da Lua
Como todas as cartas negativas do Tarot, a Lua também tem seu lado positivo. Culturalmente a Lua está associada ao feminino e a intuição. A Lua teria a capacidade de despertar a vidência e inspirar poetas sobretudo nas questões afetivas.
A Lua astrologicamente falando é a sede das emoções e a posição da lua no mapa astral revela como a pessoa lida com elas. Emoções são algo que nós temos e não são negativas nem positivas, apenas são. As ações que fazemos a partir delas é que trarão resultados desejados ou indesejados.
Alguns Tarots procuram dar uma imagem menos densa para a Lua. Por exemplo o Tarot Encantado traz uma menina em uma postura de oração com um poodle olhando para uma Lua com rosto amigável, mostrando-a mais como um guia para conduzir a criança, enfatizando o poder da intuição.
Por fim ainda há o poder de sedução evocado por Lilith, um dos aspectos da Lua. A paixão desejada e também temida, pois nos faz mergulhar no outro, esquecidos de nós mesmos.
Assim o Louco em sua jornada, após encontrado com a Estrela e ter aprendido a ter e esperança e andar sobre as águas, descobre que ao vacilar pode mergulhar no mar das emoções. A Lua, surgindo no horizonte mostra o caminho de como superar esta queda.