Napoleon Hill é um conhecido autor de livros motivacionais, de autoconhecimento e de autoajuda, é o maior expoente deste gênero da primeira onda do século XX (anos 30 e 40). Dentre os livros que escreveu estão os best sellers Pense e Enriqueça e A Lei do Triunfo.
Este seria mais um livro deste gênero, perdido num mar de imitadores, se não fosse um detalhe importante: ele foi escrito em 1938 e ficou escondido por 73 anos.
A razão para que isto tivesse acontecido foi que diversos editores recusaram-se a publicá-lo e o próprio Napoleon Hill acabou por engavetá-lo. Após a sua morte, sua família também se recusou a publicá-lo. Após ter caído em domínio público, a fundação que cuida de seu legado, a Napoleon Hill Foundation, resolveu levá-lo a público.
A causa da polêmica é o tema do livro: uma suposta entrevista do seu autor com o Diabo. Nesta entrevista o Diabo manifesta que a sua maior arma é a alienação e que seus maiores aliados, tanto para jogar as pessoas na alienação como para mantê-las nela são as Igrejas, as escolas e os pais e os professores. Ele define o ser alienado como alguém que vive a vida sem propósito, deixa-se levar pelo fracasso sem reagir, responsabilizando os outros por ele, podendo ser facilmente manipulado pelo que o Diabo representa.
Curiosamente o Diabo o adverte que ele está concedendo a entrevista apenas por que dificilmente alguém a publicaria, já que ele estaria cutucando os “pilares da sociedade”.
O livro começa com um relato a respeito de uma experiência do autor em que teve sua vida guiada por algo aparentemente externo a ele que dava ordens no sentido de colocar sua vida nos eixos após um revés na sua vida pessoal (Napoleon Hill teve vários problemas e em algumas oportunidades perdeu tudo que tinha). Para quem está habituado ao pensamento esotérico ou com a psicologia transpessoal, o que o estava guiando era seu Eu Superior. Este conjunto de atitudes que o tirou do fundo do poço, o ajudou a se livrar das garras daquilo que chamou de Diabo (que poderia ser chamado também de Sombra).
Paulatinamente, através de perguntas muito bem elaboradas, Hill arranca os segredos que o Diabo (ou nosso próprio Sombra) usa para manter a maior parte da humanidade sob seu jugo e também as formas mais eficazes para não cairmos em suas garras e, se cairmos, podermos nos libertar.
Em que pese a posição conservadora de Napoleon Hill, sua admiração pelos EUA e pela economia capitalista, o livro Mais Esperto que o Diabo merece ser lido no sentido de mudar o foco do exterior para o interior e por denunciar uma série de armadilhas que a sociedade usa para manter as pessoas alienadas.
Uma leitura recomendada mesmo para quem não esteja polarizado por uma crença religiosa ou não tenha afinidade com autoajuda, pois é um livro deste gênero que foge da mesmice com que se é tratado o tema, evitando mencionar fórmulas mágicas e bater na desgastada tecla do “pensamento positivo”. O livro efetivamente nos faz pensar.