Neste dia Internacional da Mulher, resolvi escrever sobre a presença feminina nos mitos associados à Astrologia.
Desde que eu comecei como oraculista, venho percebendo que, em diversas artes, a presença da mulher ou do aspecto feminino é deixado em segundo plano.
Não é diferente na Astrologia: dos signos só um (Virgem) pode ser diretamente ligado à mulher e, entre os planetas e luminares, somente a Lua e Vênus são femininos.
Os motivos para isso são históricos. A Astrologia no Ocidente vem dos Gregos, uma sociedade patriarcal. Posteriormente, ela ressurgiu após um período de ostracismo, na Inglaterra Vitoriana, onde a sexualidade e as mulheres eram bastante reprimidas (apesar da Inglaterra ser governada por uma mulher).
Mesmo quando se trouxe Lilith para a leitura dos mapas, Lilith é vista mais por seus aspectos negativos, sendo frequentemente chamada de Lua Negra.
As características femininas são muitas vezes associadas à mutabilidade do astro. A Lua se desdobra nas suas quatro fases e Vênus nos seus diversos papéis, como, por exemplo, estrela D’Alva ou estrela Vésper.
Percebi que a preocupação não é apenas minha. Um dos passos em direção a esta tomada de equilíbrio veio da Astrologia Heliocêntrica. Quando se pensa no Sol como centro do sistema planetário, a Terra passa a ter um papel nos mapas e nas progressões astrológicas. A Terra é uma divindade latina associada à fertilidade, um conceito que perdura até o hoje na expressão Mãe Terra. Outros nomes da Terra são Geo e Gaia, vindos do grego. É comum em várias culturas agrícolas (e a astrologia veio de uma cultura agrícola) associar a fertilidade da terra à fertilidade da mulher e terem uma deusa regente.
Gaia seria a mais antiga das Deusas e representa a mãe zelosa que luta pelos seus filhos, por mais monstruosos que sejam (Ciclopes e Titãs, que representam os acidentes geográficos, como montanhas, vulcões e vales), mesmo contra o próprio marido (no Caso Urano, o Céu).
Na Astrologia Heliocêntrica, a Terra está sempre a 180º do Sol, como se fosse uma oposição e não fará outros aspectos com ele. Por exemplo, quando o Sol está em Leão, a Terra estará em Aquário e vice versa. Isso dá ênfase na polaridade astrológica entre os signos e no conceito Luz e Sombra (quando um signo está na Luz seu oposto está na Sombra) tendo a Terra como intermediária, representado o equilíbrio ou a mediação entre luz e sombra.
Asteroides e Planetoides
Entre Marte e Júpiter, segundo a regra empírica de Bode, deveria estar um planeta. Entretanto o que está lá são pequenos astros de natureza rochosa. Há várias teorias sobre a sua formação: poderiam ser detritos de uma explosão planetária (o planeta hipotético Faeton) ou uma “má formação” planetária em virtude da gravidade intensa de Júpiter, por exemplo.
Há vários com a órbita bem definida e com efemérides calculadas e levada em conta em alguns programas de astrologia.
Entre eles estão Ceres, Palas, Juno e Vesta, representam do Deusas da mitologia grega.
Ceres (ou Deméter) é a Deusa que rege as estações do ano e muitas vezes é representada grávida, com um simbolismo próximo de Gaia. Também protege a agricultura (dando origem à palavra “cereal”).
Palas (ou Atena) é a filha de Zeus que nasceu de sua cabeça, representa a sabedoria intelectual e a justiça.
Juno é a esposa de Zeus (ou Júpiter) e protege o casamento (uma contraparte de Vênus, que representa o relacionamento por prazer, normalmente sem compromisso).
Vesta é a deusa do fogo doméstico, o centro simbólico do lar. Representa também a introspecção ou voltar-se para si. Em Roma, suas sacerdotisas – as Vestais – eram dedicadas à predição (como as pitonisas na Grécia) e segundo alguns historiadores, deram origem aos conventos femininos da igreja católica.
No limite do sistema solar, além de Plutão, há o cinturão de Kuiper, como uma série de planetoides. Entre estes planetoides está Sedna, descoberto em 2003, que também tem efemérides calculadas.
Sedna é uma divindade de cultura Inuit (esquimó) e é a Deusa criadora dos animais marinhos e senhora dos oceanos. Foi a primeira vez que um corpo celeste foi batizado com um nome fora da cultura greco-romana.
Nem tanto…
Parece que a população feminina cresceu nos céus astrológicos. Porém, Vesta parece que representa a Amélia, personagem da música de Lupicínio Rodrigues. Ceres parece uma versão mais branda de Gaia, representa o lado materno. Juno está do lado da mulher, mas defende a unidade casamento, a qualquer custo (ainda que o marido seja um crápula, como era Zeus em relação a ela).
Porém, Palas e Sedna, por motivos diversos, trazem ventos de renovação.
Palas representa uma mulher vencendo num mundo masculino. Irmã de Marte, é também uma deusa da guerra, porém mais cerebral que o irmão. Marte gosta da briga em si, e tem pavio curto. Já Palas planeja com estratégia e prefere a diplomacia. Há relatos de brigas literalmente homéricas entre ela e seu irmão, onde a Terra treme, terminando quase sempre com uma vitória dela.
Sedna é uma típica divindade xamânica. Vítima de assédio violento, ao recusar seus pretendentes foi jogada no fundo do oceano, de onde passou a reinar sobre a vida marinha, cuja a caça e pesca é fundamental para a sobrevivência do povo Inuit. É a mulher ferida que ressurge em glória e poder e que deve ser reverenciada por quem a desprezou. Representa o feminino rejeitado.
Há ainda um outro campo a ser explorado: as Luas de Júpiter e Saturno. Não seria bastante interessante, por exemplo, ter Reia no seu mapa natal?
Alvaro Domingues – Março de 2021