O Imperador – A força da Civilização
A carta seguinte, que recebe o número 4, normalmente associado às estrutras materiais, é o Imperador.
Da mesma forma que a Imperatriz é o arquétipo feminino por excelência, O Imperador é o arquétipo masculino por excelência. O homem, por ser incapaz de gerar, constrói. O Imperador é o Construtor da Civilização, que, em tese, se opõe à natureza. O homem também concebe. Então torna-se pai. Não é por acaso que o Tarot da revolução francesa o chama de Grand Père, Grande Pai (que também significa avô). O termos “pátria” também tem sua raiz em “pai”. A Nação (o povo, a terra e a cultura) é a Imperatriz. O Imperador é a Pátria: a organização política, os limites territoriais e as instituições.
O termo “conceber” tem outro significado: produzir uma ideia. A ideia é gerada na mente. Assim como o inconsciente é feminino, a mente consciente, arquetipicamente falando é masculina. O homem, do mesmo jeito que concebe um filho, concebe uma ideia com sua mente consciente.
Uma ideia pode ser simbolizada por uma semente (derivada da palavra semên, uma óbvia associação com o ato de concepção). Entretanto uma semente sem a terra não germina. A Terra, tanto planeta como o solo, é feminina em várias culturas.
Do mesmo modo uma ideia sem o substrato do inconsciente (a fantasia, o desejo, o prazer) não germina.
Vejam bem: estes símbolos são arquetípicos e não justificam nenhum preconceito de gênero.
O arquétipo pode ser entendido com uma força psíquica, que atua nos seres humanos independentemente de seu gênero ou orientação sexual. Assim teremos homens e mulheres capazes de conceber ideias e de participarem da estrutura de poder bem como homens e mulheres com sensibilidade e amor pela natureza. Há cientistas, governantes, poetas e artistas plásticos em ambos gêneros e em qualquer orientação sexual.
O Imperador e a Imperatriz podem estar em harmonia e assim teremos o que hoje se chama um “desenvolvimento sustentável”. Um povo feliz numa pátria estável, respeitando a natureza.
Se estiverem em desarmonia, com prevalecimento do Imperador teremos o desrespeito à natureza, o desvio do papel das intuições, a concentração do poder e, no limite, um governo totalitário. O lado negro do Imperador é bem visível: imperadores romanos, ditadores de qualquer coloração política, o imperialismo dos dias atuais, a corrupção e o favorecimento das elites em detrimento do povo.
Se por outro lado, se a Imperatriz prevalecer, pode ocorrer o abandono das instituições e a sua deterioração, podendo levar ao caos. O lado negro da Imperatriz é a Lei das Selvas, que paradoxalmente favorece o mais forte.
Se pensarmos no movimento pendular da história, um Imperador em desequilíbrio leva ao totalitarismo. Que vai gerar uma Imperatriz cheia de ódio e uma revolução. O poder é derrubado e surge um caos e torna-se necessário um novo Imperador, que vai no inicio tomar as rédias da situação e depois acumular poder gerando um novo desequilíbrio. O Exemplo mais claro é a Revolução Francesa: Absolutismo, Revolução, Reinado do Terror, Napoleão Bonaparte.
O ideal seria um equilíbrio das duas forças arquetípicas. O Imperador e a Imperatriz lado a lado, em vez de um subordinado ao outro.
Isso vale para nosso interior também. Um excesso do Imperador nos leva a negligenciar o corpo e as relações sociais e um forte apego às regras. Um excesso de Imperatriz leva à vaidade, o consumo exagerado, valorização em demasia dos relacionamentos sociais superficiais em detrimento de outros mais significativos e um desprezo às regras, mesmo àquelas que lhe seriam benéficas.
Após encontra-se com o Imperador, o Louco encontrou o valor e o significado das regras e também suas limitações. Ele agora perdeu um pouco da espontaneidade, porém ganha mais estabilidade o que o permite seguir em frente. Se pensarmos em Freud, o Louco aprendeu o “princípio da realidade”. Se ele aprendeu as lições anteriores, seguindo as regras, paradoxalmente, se tornou mais livre: agora pode pensar em seu futuro e dar forma a seus sonhos.
O Papa ou o Sacerdote – A face visível de Deus
O encontro seguinte do Louco será com O Papa. O nome o Papa está no Tarot de Marselha, mostrando a origem medieval deste Tarot em particular. A Igreja era a grande dominadora, ditando regras de conduta, e tinha atrás de si o aval divino (segundo, é claro, sua própria avaliação).
O Papa representa o sagrado e um conhecimento oculto, que só ele pode acessar e revelar o que convém à audiência.
Num outro tipo de sociedade ou nas ordens esotéricas atuais, representa o conhecimento que pode só ser revelado aos iniciados, oculto não por ser um segredo, mas que era inefável, algo que só podia ser sentido após um processo: a iniciação.
Um exemplo interessante ocorria num processo iniciático grego. O neófito era levado a uma sala onde havia um jarro. Ele deveria olhar dentro do jarro para ver seu verdadeiro eu. Sem que ele percebesse, seu mestre posicionava por cima de seu ombro uma caveira. O reflexo que ele via era o do crânio, levando um susto. Se alguém contasse antes, o susto não seria possível e, sem o susto não haveria o aprendizado. Uma coisa é você saber intelectualmente que seu fim é a morte outra é sentir isso.
O que ocorre com este tipo de conhecimento é que os rituais e o bla bla bla ficam e o conhecimento real se perde. Assim o sacerdote continua fazendo o mesmo de geração em geração, às vezes sem saber o que aquilo significou um dia. Era isso que Cristo condenava nos fariseus. Infelizmente foi isso que aconteceu com o cristianismo, em todas as suas vertentes, sem exceção. Um apego a uma figura exterior, seja o Papa, o Bispo, ou pastor. E acontecerá com toda religião que se dogmatiza.
Entretanto há o aspecto do Sagrado, que arquetipicamente é necessário ao nosso desenvolvimento psíquico. Precisamos realmente do sagrado? É uma força que está lá em nossa mente e ganhará contornos de acordo com o nosso sistema de crenças. Pode ser o Papa mesmo, se formos católicos, ou princípios que regem nossa vida que não desejamos abandonar. Todos temos, quer sejamos carolas quer sejamos ateus.
Aqui as regras do Imperador ganham o caráter divino e não podem ser violadas, sob as penas do Inferno. A lição que o Louco precisa aprender é reconhecer o sagrado, porém deve superar a postura excessivamente rígida representado pelo Papa, do contrário ficará preso em sua jornada.