Assim como o Louco que viaja através dos arcanos, abrindo o Tarot, O Mundo, o Arcano XXI, seria a carta de fechamento, encerrando o ciclo. No entanto, o Louco, além de ser a carta zero é também a carta XXII, mostrando que a vida é um eterno devir, um processo, que não termina nem mesmo com a Morte.
Para muitos teóricos do Tarot, O Mundo seria um símbolo de êxito supremo, a reunião de todas as polaridades e de todos os elementos. Observe a carta O Mundo do Tarot de Marselha. Há no centro um ser andrógino e em sua volta quatro outros seres: um leão, um touro, uma águia e um homem. Estes quatro animais tem um simbolismo forte e estão associados com a Esfinge, um ser com cabeça humana, patas dianteiras de leão, torso de touro e asas de águia.
O Leão representaria o elemento Fogo; o Touro, Terra; Águia, Ar e o Homem, Água. E cada um gerará um dos naipes dos arcanos menores: Ouros corresponde à Terra; Espadas, ao Ar; Paus, ao Fogo e Copas à Água.
A Esfinge representa o homem em todas as suas facetas reunidas num ser só, que o sintetizaria, da mesma forma que o Mundo.
Contudo há que se examinar outro aspecto, já presente na carta anterior: O Mundo está fortemente vinculado a uma simbologia bíblica. Os quatro animais percorrem quase todo o Apocalipse e estão associados cada um a um dos quatro cavaleiros do Apocalipse (que provavelmente deram origem aos cavaleiros dos quatro naipes). Os animais também a aparecem na visão de Ezequiel (muitos julgam tratar-se de uma descrição de alienígenas).
Apocalipse, cp 4, versículos 6 e 7
6. também havia diante do trono como que um mar de vidro, semelhante ao cristal; e ao redor do trono, um ao meio de cada lado, quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por detrás;
7. e o primeiro ser era semelhante a um leão; o segundo ser, semelhante a um touro; tinha o terceiro ser o rosto como de homem; e o quarto ser era semelhante a uma águia voando.
Apocalipse, cp 6, versículos 1 a 8
1.E vi quando o Cordeiro abriu um dos sete selos, e ouvi um dos quatro seres viventes dizer numa voz como de trovão: Vem!
2. Olhei, e eis um cavalo branco; e o que estava montado nele tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa, e saiu vencendo, e para vencer.
3. Quando ele abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser vivente dizer: Vem!
4. E saiu outro cavalo, um cavalo vermelho; e ao que estava montado nele foi dado que tirasse a paz da terra, de modo que os homens se matassem uns aos outros; e foi-lhe dada uma grande espada.
5. Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente dizer: Vem! E olhei, e eis um cavalo preto; e o que estava montado nele tinha uma balança na mão.
6. E ouvi como que uma voz no meio dos quatro seres viventes, que dizia: Uma medida de trigo por um denário, e três medidas de cevada por um denário; e não danifiques o azeite e o vinho.
7. Quando abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser vivente dizer: Vem!
8. E olhei, e eis um cavalo amarelo, e o que estava montado nele chamava-se Morte; e o inferno seguia com ele; e foi-lhe dada autoridade sobre a quarta parte da terra, para matar com a espada, e com a fome, e com a peste, e com as feras da terra.
Ezequiel cp 1 versículos 4-10
4. Olhei, e eis que um vento tempestuoso vinha do norte, uma grande nuvem, com um fogo revolvendo-se nela, e um resplendor ao redor, e no meio dela havia uma coisa, como de cor de âmbar, que saía do meio do fogo.
5. E do meio dela saía a semelhança de quatro seres viventes. E esta era a sua aparência: tinham a semelhança de homem.
6. E cada um tinha quatro rostos, como também cada um deles quatro asas.
7. E os seus pés eram pés direitos; e as plantas dos seus pés como a planta do pé de uma bezerra, e luziam como a cor de cobre polido.
8. E tinham mãos de homem debaixo das suas asas, aos quatro lados; e assim todos quatro tinham seus rostos e suas asas.
9. Uniam-se as suas asas uma à outra; não se viravam quando andavam, e cada qual andava continuamente em frente.
10. E a semelhança dos seus rostos era como o rosto de homem; e do lado direito todos os quatro tinham rosto de leão, e do lado esquerdo todos os quatro tinham rosto de boi; e também tinham rosto de águia todos os quatro.
Alguns interpretes veem os quatro animais como símbolos dos quatro Evangelistas, porém isto é pouco provável, já que a escolha dos Quatro Evangelhos ocorreu no século III, quando foi formado o cânone que hoje conhecemos do Novo Testamento, ou seja, depois da escrita do Apocalipse de São João.
O Apocalipse tem dois sentidos básicos, um cosmológico (que infelizmente é levado ao pé da letra) e um individual (que ninguém, nem mesmo os religiosos, dão a devida importância). Podemos lê-lo como a descrição de um processo de mudança interna, onde tomamos consciência da negatividade e a transcendemos. Todos somos cada um dos quatro cavaleiros e também suas vítimas. Somos também os habitantes da Nova Jerusalém.
Então, o que é o Mundo? Os gregos falam da Quintessência, o quinto elemento que seria a junção dos outros quatro. Significaria a harmonia plena.
A reunião dos quatro animais forma a Esfinge, que seria a síntese das quatro características que compõe o homem: os instintos (o Touro), o poder (o Leão), a razão (a Águia) e a emoção (o Homem).
A frase aparentemente terrível, “decifra-me ou devoro-te”, significa a busca pelo autoconhecimento, pois o homem que não conhece a si mesmo tende a ser destruído por um dos aspectos que não está sob seu controle: se negar ou supervalorizar seu instinto, cairá na intemperança; se se curvar demais ao poder perderá sua liberdade ou se fizer uso dele de forma tirânica poderá ser destruído; se negar a razão poderá cometer um grave erro, se a supervalorizar poderá se tornar arrogante e se negar ou supervalorizar suas emoções, poderá cair em depressão ou ter um acesso de raiva.
O Mundo nos mostra um modelo ideal que devemos almejar, onde cada um dos nossos aspectos está em harmonia com os outros e sem polaridades: bem/mal, masculino/feminino, sexo/amor, emoção/razão, governante/governado, Deus/Homem. Se o alcançarmos em sua plenitude, teremos atingido a Iluminação.
Esse seria o fim último do homem e é inatingível, mas pode ser tangenciado. Por isso o Mundo não fecha o Tarot, mas o Louco. Quando o tangenciamos, vislumbramos uma nova jornada e o Louco seguirá novamente o caminho.
Assim o Louco ao encontrar o Mundo percebe que evoluiu em relação ao início da jornada, mas também percebe que ainda há mais para aprender e continua sua jornada, em busca do Mago pra escolher novos caminhos.