Recentemente, vi uma metáfora interessante sobre a vida, contada pelo hipnólogo Fabio Puentes:
“Imagine que a vida é um labirinto, onde o nascimento é a entrada e a saída, a morte. Você na realidade é formado por uma dupla de gêmeos. Um deles, seu Eu Consciente, que percorre o labirinto andando de costas, sem poder voltar-se. Isso é como acontece em nossas vidas: percorremos baseando nosso andar na experiência passada e desconhecemos o futuro. O outro gêmeo, o nosso Inconsciente consegue ver o labirinto do alto, tendo uma visão ampla de todo ele, porém é mudo e não pode avisar o Eu Consciente diretamente. Então lança mão de subterfúgios: intuições, premonições, sincronicidade.
O nosso Eu Consciente às vezes percebe, outras não.
Os Oráculos servem de um guia para nos comunicar com nosso Eu Inconsciente. Para isso precisamos estar abertos a ouvir o que eles têm a nos dizer.
Os Oráculos e Estados Alterados de Consciência
O Oráculo de Delfos, na Grécia, fazia parte de um templo dedicado ao deus Apolo. As profecias eram feitas pelas pitonisas, moças que dedicavam sua vida a estas predições. Para fazê-las, as pitonisas respiravam um gás oriundo de um fenda na terra e entravam em transe. Neste estado, respondiam às consultas. O transe traria a elas o dom da vidência.
Muitos argumentam que o que elas falavam em resposta era panglosia, uma fala desconexa que pode ser interpretada ao bel prazer de quem ouve. Ainda assim, isso confirma uma das características do Oráculo: a resposta já é do conhecimento de quem pergunta. O consulente sabe, ainda que não saiba. Este aparente paradoxo é causado justamente pela separação do consciente e inconsciente.
A colocação em estado transe para que a vidência ocorra, às vezes com o uso de substâncias alucinógenas, aconteça ocorre também em diversas culturas xamânicas.
Mas será necessário estados alterados tão fortes para que o oráculo possa ser processado?
Oráculos divinatórios
O transe profundo, oriundo ou não de drogas, não é necessário ao oráculo. Vários métodos empregados desde a antiguidade até os dias de hoje usam forma leves de transe, às vezes imperceptíveis.
É o caso das leituras feitas a partir de cartas ou outros instrumentos, que recebem um nome seguido do sufixo mancia: cartomancia, taromancia, quiromancia, etc..
Nestes métodos, algum procedimento o ritual feito antes ou durante o processo contribui para que a frequência cerebral abaixe, tanto do leitor como do consulente. Às vezes o próprio ambiente contribui para isso. É o ato de embaralhar as cartas, a prece feita a alguma entidade de forma circunspecta, o ato de distribuir as runas ou as cartas, a solicitação do leitor para que o consulente se concentre em sua pergunta ou algum outro procedimento simples que coloque o leitor e o consulente em contato com seu inconsciente.
Duas aparentes exceções: a Astrologia e Numerologia
Pode-se argumentar que estes dois oráculos, baseados em cálculos a partir da data de nascimento e do nome, no caso da Numerologia e no local, data e hora do nascimento, no caso da Astrologia, independem de um estado alterado de consciência para funcionarem.
No quesito cálculo, talvez. Se dois astrólogos ou dois numerólogos, diante dos mesmos dados, usarem as mesmas metologias chegarão ao mesmo resultado. Isso devido a consistência e coerência dos métodos empregados.
Convém lembrar Platão e sua Academia. Na porta deste local, estava escrito: Não entre se não for geômetra.
Ele levava em consideração duas coisas: uma a similaridade que ele enxergava entre o ângulo reto e o comportamento regido por princípios (talvez daí o significado de “retidão” de caráter) que o ato de fazer cálculos também é um modo de entrar em um estado alterado de consciência.
O astrólogo ou o numerólogo terão uma fase de cálculos onde estarão em contato com os dados da pessoa e o colocarão em concentração. E o que vem depois? A analise e interpretação dos dados. Tanto na numerologia como na astrologia é um complexo conjunto de dados e quem decide quais são relevantes é o profissional que fez os mapas. Usando uma boa dose de intuição.
Psicanálise e psicologia
Muitos podem estar achando estranho a presença da Psicanálise e da Psicologia entre os oráculos. Segundo as definições de ambas, não são, pois não há uma preocupação em prever o futuro, porém ambas investigam o inconsciente.
Embora não se preocupem em olhar para frente no labirinto, ajudam os seus pacientes a verem de forma mais abrangente, extrapolando as paredes que o limitam no seu caminhar. Colocam em suas mãos uma lanterna e um rádio-comunicador para falar de vez em quando com seu inconsciente e o soltam no mundo.
Como estão associados com o processo de cura, podem ser comparados aos xamãs. Isso mais ainda na psicanálise, onde para ser psicanalista, o profissional terá que ter percorrido o seu próprio processo de individuação e só depois poderá usar seus conhecimentos para auxiliar seus clientes.
Conclusão
Imagine você está num bosque, durante uma noite escura, onde não consegue enxergar o próprio nariz. Mas por uma razão importante, tem que caminhar. Você pode até estar equipado com uma lanterna e conseguindo iluminar uns poucos metros a frente, ainda fragmentado, já que depende de um pequeno facho de luz.
De repente, um relâmpago. Por uma fração de segundo você consegue ver todo o cenário e até tem uma ideia de onde pode ir.
Este relâmpago é o Oráculo.