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Oráculos e Destino

roda da fortuna

Quem trabalha com oráculos já foi questionado ou se questionou sobre a questão do destino.

Se um oráculo ou a astrologia pode prever um acontecimento, então as coisas estão predeterminadas? Há um destino? E o que é o destino?

Há vários pontos de vista possíveis, com maneiras diferentes de encarar o futuro, a vida e a capacidade de se prever ou não o futuro.

Vamos destacar alguns.

Fatalismo mecanicista

Esta forma de ver vem mecânica clássica, a partir de Newton. Newton diz se conhecemos as condições iniciais de um objeto e as forças que nele atuam, podemos prever em qualquer instante onde e como estará este objeto e todas as suas propriedades.

Levando as últimas consequências, tudo é resultado das forças físico-químicas que nos circundam e atuam sobre nós.

O modelo seria um relógio.

Engrenagens representado o destino do ponto de vista mecanicista.
O modelo mecanicista é um relógio, que sempre seguirá o que seu mecanismo indica

Incerteza Quântica

Como contraponto ao fatalismo mecanicista, temos a Incerteza Quântica. Pelo princípio da Incerteza enunciado por Heisenberg, é impossível saber ao mesmo tempo a velocidade e a posição de uma partícula, desmentindo assim o determinismo mecanicista.

Houve uma grande polêmica entre Einstein e Heisenberg, pois Einstein não conseguia aceitar a impossibilidade de se predeterminar a posição de uma partícula. Nesta discussão Einstein usou a celebre frase: “Deus não joga dados com o Universo”. Depois de vários debates, finalmente Einstein jogou a toalha.

Um experimento mental famoso é o “gato de Schrodinger“, onde há uma superposição de estados e gato está vivo e morto ao mesmo tempo.

Gato observando seu destino: estarei vivo ou morto?
O gato de Schrodinger ilustra o ponto de vista quântico.

Fatalismo Cristão

Calvino fez o seguinte raciocínio: se Deus é Onipotente e Onissapiente, ele sabe tudo, do início ao fim, então ele sabe quem será salvo e quem será condenado. Então nosso futuro é pré-determinado.

Então, o que resta ao homem? Calvino afirma que Deus sabe, mas nós não e que devemos confiar em sua sabedoria.

Busto em Bronze de Calvino
Calvino diz que Deus sabe o fim de todos nós e quem será salvo ou condenado

Tragédia Grega e Shakesperiana

Na Tragédia, o destino do protagonista já foi traçado e mesmo que se tente evitá-lo, cada uma de suas ações vai levá-lo a este destino.

Por exemplo, o pai de Édipo foi consultar o oráculo de Delfos e foi previsto que menino estava destinado a matar seu pai e casar com sua mãe.

Para evitar este destino, Édipo foi pendurado pelos pés em uma árvore para morrer. Entretanto, foi salvo por um camponês e cresceu ignorando quem era seu pai. Um dia, encontra com seu pai no caminho para Tebas e, numa disputa pelo privilégio de passagem, acaba lutando com ele e o mata. Chegando a Tebas, descobre que o rei de Tebas está morto (que ele não sabe que é seu pai nem que foi a pessoa que ele matou na estrada) e reivindica o trono e se casa com a viúva (que é sua mãe).

Se ele não tivesse sido abandonado na floresta, não cresceria ignorando quem era seu pai e possivelmente não o teria matado.

Teatro Grego
Na Tragédia Grega, o destino trágico previsto não pode ser evitado

Existencialismo

Na filosofia existencialista, cujo maior expoente é Jean-Paul Sartre, a existência precede a essência. Nada é predeterminado e o mundo não tem um significado. Somos nós que atribuímos um significado à nossa vida e ao mundo ao nosso redor.

Jean-Paul Sartre
Segundo Sartre, o mundo não tem significado.

O eterno retorno e o eterno devir

Várias filosofias falam do eterno retorno, que tudo é cíclico e estamos presos neste mundo repetindo as mesmas experiências até transcendermos a chamada Roda de Sansara.

Num outro extremo há o eterno devir: tudo está em constante mudança e nunca atravessamos o mesmo rio duas vezes.

roda da fortuna
A Roda da Fortuna mostra o vai e vem do Destino

Lei da Atração, Poder da Mente, etc..

Para quem adota este ponto de vista, o mundo à nossa volta pode ser moldado pelo nosso pensamento e portanto, podemos criar nosso destino, ou pelo menos contorná-lo.

Na posição mais extrema deste ponto de vista, há o solipsismo, onde o mundo a nossa volta está sendo criado pelos nossos pensamentos o tempo todo. Moldar não só o nosso destino como também o mundo todo estaria ao alcance do nosso pensamento. Não fazemos isso porque estamos num “mundo de ilusões”.

Seria preciso “sair da Matrix”, ou do mundo ilusório onde estamos imersos.

Matrix
Estamos presos numa Matrix?

Os sentidos da palavra “destino”

Mas, o que é Destino?

A palavra tem vários sentidos, mas o  mais corriqueiro é “estou saindo de minha casa e vou com destino à praia”. O destino seria o ponto final de uma jornada.

Por extensão, começou-se a pensar no destino final do homem, que em última análise, é a morte.

Esse “destino” parece ser inaceitável. Não queremos que seja “só isso”. Alguns esperam que a vida tenha um significado outros que haja uma vida após a morte.

Em qualquer ponto de vista, ficamos chocado diante daquilo que chamamos de “fatalidade”, um acontecimento trágico, inesperado e mortal, como um acidente de automóvel.

Carro atropelou motoqueiro e bateu em poste. Socorro chegou.
Uma fatalidade. Esta expressão, embora de forma implícita, indica que o que aconteceu não poderia ser evitado

Nem tanto ao Mar nem tanto à Terra

Tudo o que se sabe a respeito do destino não permite que se feche a questão.

Há uma anedota sobre isso:

Um dia um filósofo queria saber se havia ou não predestinação. E começou a andar em linha reta. E fez o seguinte diálogo interno:

Estou andando em linha reta porque escolhi fazer isso, ou foi o destino que me colocou neste caminho?

Então, vou virar à esquerda pra contrariar este destino.

Ele fez essa ação. E continuou seu diálogo interno:

Mas, eu virei à esquerda por que eu quis ou por ser meu destino?

Algumas horas depois foi encontrado andando em círculos.

Não há uma resposta simples, mas podemos nos aproximar de uma.

Por exemplo, sabemos que alguém saltar do telhado de um prédio de dez andares morrerá na queda. As leis de Newton, mesmo com toda a Incerteza de Heisenberg e todo o pensamento positivo, vão estar funcionando.

Vamos supor que no oitavo andar na sacada tenha um oraculista e o sujeito na passagem pergunta:

Vou morrer?

Oraculista, mesmo sem olhar para seu oráculo, com toda certeza já sabe que vai. Destino ou escolha? O sujeito pode ter escolhido pular, mas se esborrachar no chão será seu destino.

Esta é a forma que penso.

Há uma imagem interessante para ilustra esse ponto. Há um rio que segue pela sua margem. Nele colocamos uma canoa que vai seguir por ele. Podemos apenas nos deixar levar, remar a favor da corrente para ir mais de pressa, ou em direção a uma das margens, para desembarcarmos em um dos lados, ou contra a corrente, para ir na direção oposta.

As águas do rio são o nosso destino. Mas temos a liberdade de escolher a direção do nosso barco.

O oraculista pode nos dizer aonde a água vai.

Mulher deitada num bote, deixa-se levar pela corrente. Destino?
O destino é um rio onde estamos flutuando. Podemos nos deixar levar ou tentar mudar o rumo.

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