Quem lida com qualquer oráculo, sempre encontrará com os céticos. Com o tempo aprendemos a nos esquivar destas discussões, que são intermináveis e não chegam a lugar algum. Ao pensar sobre o assunto, lembrei-me desta questão:
Se uma árvore cai na floresta mas não há ninguém por perto, ela faz barulho?
Esta frase é um mondô zen clássico.
Para o nosso cérebro racional só existem duas repostas possíveis: sim ou não.
A primeira tendência é pensar no som em si mesmo, um fenômeno físico, “o propagar de uma vibração num meio material elástico”. Neste sentido, responderíamos “sim”.
O som sempre existirá, quer alguém observe ou não, porém, o barulho é um conceito, um significado dado ao som ouvido. É neste sentido que o barulho não existirá. E podemos responder “não” à pergunta.
Se topar com um cético, convido-o a pensar um pouco neste “não”, principalmente se ele estiver pensando em termos ditos científicos.
Vamos examinar a própria Filosofia da Ciência do Ocidente.
O primeiro que encontraremos é Berkeley, que fala sobre o Big Ben, que só existiria para ele se fosse observado. E ele é um dos pais da observação científica que conhecemos hoje.
Depois, Descartes, outro influenciador do pensamento científico contemporâneo, que valoriza a observação. Ele diz: “Penso, logo existo” e caiu numa armadilha lógica, pois não haveria meio de provar a existência do mundo fora do sujeito então teve que apelar para Deus. E logo a seguir Kant, que criou um Ser Transcendental para o mesmo fim.
Vamos um pouco para a Matemática agora. Lá encontraremos o Teorema de Gödel, que diz que é impossível provar que “os postulados da aritmética não contêm contradição”. A partir daí:
A matemática existe porque você acredita nela.
E depois, para a Física Quântica, que nos diz que impossível separar o fenômeno observado do observador, pelo menos a nível atômico. O problema da árvore na floresta se transforma no Gato de Schrodinger.
E historicamente falando, toda ciência é antropocêntrica e presa as circunstâncias históricas que a cercam, um dos pontos da polêmica entre Karl Popper e Thomas Kuhn, os dois maiores filósofos da Ciência do século XX, cujo pensamento repercute até hoje.
Voltando ao mondô zen: estas perguntas zen não visam uma resposta “certa”, mas um tema para meditação. Portanto qualquer das duas respostas colocadas em termos absolutos é simplória. Tal qual o Gato de Schrodinger.
Ou o Gato de Kant.