Eu tenho visto uma tendência de várias correntes de pensamento e até pessoas comuns se insurgirem contra o Ego apontado-o como um inimigo a ser vencido. Entretanto convém um alerta.
Estudo Jung já há algum tempo e também PNL. Ambos esclarecem que o Ego não é um inimigo. Todas as vezes que o classificamos como uma entidade separada, estamos negando a totalidade.
Do ponto de vista junguiano, a totalidade pode ser vista como o Arquétipo Central. Ele pode ser simbolizado por uma árvore, do qual o Ego é um de seus frutos. O que conhecemos do Ego vem de Freud, que estudou o Ego numa situação de patologia. O Ego saudável seria a organização mental que nos permite viver no mundo. É ele que trabalha, paga as contas, etc.. e organiza a nossa vida psíquica, dado-nos um senso de identidade. O erro é o Ego se confundir com a totalidade, ou “pensar que é Deus”. Ele é um dos frutos e não a árvore.
A PNL nos ensina que toda vez que tentamos lutar com uma parte (qualquer que seja) sem colocá-la num contexto ecológico, o que vamos ter é uma guerra. Se agirmos dessa maneira contra uma parte bem simples, teremos uma reação de autopreservação que vai gerar um comportamento adverso. Por exemplo, se lidamos com uma parte que tem compulsão por comer bolo tentando reprimi-la, ela vai dar uma resposta ou mudando a nossa compulsão por outra ou somatizando. Por exemplo, transforma-se a compulsão por bolo em compulsão por roer as unhas ou é gerada uma anorexia nervosa. Imagine o que acontecerá se lutarmos contra o Ego.
Quer queiramos quer não, até o mais santo dos iogues tem um Ego que o ajudará a preservar sua vida. Um grande homem precisa de um grande ego. É o ego que age no mundo. E se há que se fazer coisas grandiosas, é preciso de um ego gigante para fazer estas coisas grandiosas.
Temos que ter cuidado com duas armadilhas. A primeira é acreditar que nosso ego, por maior que ele seja, é maior que a Totalidade. A segunda é criarmos a ilusão de ter destruído o Ego. E quem tem esta ilusão? O próprio Ego!
Então o que fazer? Não tenho a resposta, mas vários mestres de vários tempos, não com estas palavras, mas com este conceito, dizem que “é deixar o ego de lado, permitindo que o Todo aja”.
Como? Ainda estou descobrindo. Lembrei agora de uma frase de Wittgenstein: “a função do filósofo é construir uma escada e depois de subir nela, jogar a escada fora”. Eu entendo desta maneira: um filósofo (ou qualquer mestre) constrói a escada (ou o caminho) para descobrir a Verdade e ao chegar a seu destino percebe que a Verdade estava na construção da escada e não em alcançar seu topo. Talvez por isso que Jesus, Buda ou Sócrates não tenham deixado nada escrito e Jung tenha dito “ainda bem que não sou junguiano”. E Wittgenstein tenha abandonado a filosofia e se tornado professor primário. Indagado sobre o por que disso, respondeu: “Está na hora de vocês prestarem atenção no que eu não disse”.
Cada um de nós terá que construir sua própria escada. Já construiu a sua?
Links de interesse:
Site sobre Jung: Jung na Prática
Artigo sobre Wittgestein: Wittgenstein e a figuração do mundo
Palestra sobre Ego e Felicidade, com prof. Helio Couto: Ego e Felicidade