Tarô do Divino
Inspirado em divindades, folclores e contos de fadas de todo o mundo
Autora: Yoshi Yoshutani
Título original: Tarot of The Divine – a Deck and Guidebook
Tradução: Daniel Moreira Miranda
Editora: Mantra / Edipro
Ano da Publicação: 2023
A proposta deste Tarot é ilustrar cada um dos arcanos maiores e menores com figuras tiradas de mitologias, contos de fadas e folclóricos do mundo inteiro. Indo desde contos tradicionais como a Bela e Fera e a Pequena Sereia e passando por mitos de Gana, do povo Inuit, da Irlanda, da Coreia, do Brasil entre outros, este deck constrói um rico mosaico de figuras simbólicas.
Entretanto essa riqueza é prejudicada porque existem alguns contos desconhecidos pela maioria das pessoas. Os editores informam que há um livro onde estes contos são mostrados em detalhes, Beneath the Moon , mas que, infelizmente, ainda não foi traduzido para o Português.
Ao leitor mais interessado, o bom e o velho Google pode ajudar. Mas mesmo esta ajuda depende de algum conhecimento e feeling. Por exemplo, eu tive algumas dificuldades com alguns dos contos, como As Três Princesas da Terra Branca, associada ao Carro (depois de algumas pesquisas, cheguei ao conto “As Três Princesas Encantadas”).
Também há algumas associações controversas, como a da Pequena Sereia com O Louco, A Mulher Búfalo Branco como O Hierofante e A Tartaruga Cósmica como Rei de Ouros.
No caso da Pequena Sereia, ela foi escolhida para representar O Louco, por, na visão da autora, ela simbolizar a saída do inconsciente em direção ao mundo real. Esta visão é muito interessante, pois as águas, sobretudo as do oceano, em muitas mitologias representam o inconsciente. Ela também conserva a questão da ingenuidade e curiosidade perante o mundo, ignorando seus perigos, mas foge da dinâmica do Louco dos baralhos tradicionais. Esta dinâmica mostra o Louco percorrendo uma estrada sólida, mas que pode levá-lo a um precipício, que ele, desatento, pode cair.
A Mulher Búfalo Branco é um equívoco mais grave, na minha opinião. A lenda da Mulher Búfalo Branco representa o encontro com a Natureza Sagrada, feminina. O Hierofante, na maioria dos decks, traduz o encontro com a religiosidade formal e estruturada. No Tarot de Marselha ele é O Papa. A religião estruturada é uma das faces do patriarcado, portanto ele é representado por um homem, não uma mulher. Não se trata aqui de uma posição sexista. O Louco, O Mago e O Enforcado, figuras tradicionalmente masculinas são representados por figuras femininas no Tarô do Divino, sem que isso por si só represente um problema. Na maioria dos decks o lado feminino da religiosidade é representado pela Sacerdotisa ou A Papisa e neste deck a escolhida foi Sherazade. Se já existe uma figura feminina associada ao sagrado, não vejo a necessidade de se colocar outra, numa carta fortemente associada com as religiões estruturadas, em o que está sendo representado é justamente a perda do contato com a natureza, típico das instituições formais das sociedades patriarcais.
No caso da Tartaruga Cósmica, associada ao Rei de Ouros, o problema é diferente. A Tartaruga Cósmica representa solidez de todo o Universo, pois ela o sustenta. Para mim, isso é dar uma representa simbólica muito forte para o Rei de Ouros. Ele, na maioria dois decks, representa o poder material, mas não de forma tão transcendente.
Há entretanto alguns acertos significativos. Por exemplo, o uso do Rei Arthur para simbolizar O Imperador. Como Rei mítico, o Rei Arthur reúne muitas das característica atribuídas ao Imperador, tanto as positivas: poder, liderança, capacidade de gerar e manter a união de povos distintos; como as negativas: manutenção do poder a qualquer custo, autoritarismo e ganância.
Outro grande acerto é representação de o Ás de Espadas. A autora escolheu a história do Nó Górdio. O Nó Górdio era um nó que teoricamente era impossível de ser desatado porque as pontas da corda não eram visíveis. A lenda dizia que que desatasse aquele nó governaria o Mundo. Alexandre, o Grande aceitou o desafio e com sua espada cortou o nó (as regras não diziam que isso não era permitido). Assim, o Ás de Espadas neste Deck enfatiza a tomada de decisão e por “pensar fora da caixa”.
Conclusão
O Tarô do Divino é uma obra que busca trazer contos, mitos e lendas de várias culturas e neste quesito cumpre bem seu papel, pois, para captar a essência do simbolismo, é necessário conhecer ao menos cada conto ou mito em linhas gerais.
Como Tarot, podemos olhá-lo como um oráculo que nos amplia a visão, trazendo símbolos de um universo ampliado, alargando nossos horizontes como tarólogos.